O Combate à Carência
Por Pe. Frei Marcelo Aquino, O. Carm
Um dos Grandes Males do Nosso Tempo: A Carência
Um dos grandes males do nosso tempo é, sem dúvida, a carência. Parece que todo o mundo resolveu sentir a mesma coisa ao mesmo tempo. A Igreja nos convida a voltar nossas atenções para Deus, pois nele temos todos os afetos os quais uma pessoa precisa e que não nos escravizam, como são os afetos meramente humanos. Os sentimentos fazem parte da vida humana; sentir isso ou aquilo não é sinal de anormalidade. O problema é como nós administramos esses sentimentos: a vida humana deve ser administrada por cada um dos seres e não se deve delegar esse encargo a outrem. Se os sentimentos não forem bem administrados pelas pessoas, estas chegam a tornar-se escravas deles, fazendo coisas que antes não se imaginava ter coragem de fazê-las.
A liberdade para a qual Cristo nos chamou é, antes de tudo, a liberdade para nos decidirmos por Deus. Ele nos chama a vivermos livres dos afetos desordenados e alimentados por seu amor, que é saudável e eficaz. Hoje qualquer coisa é motivo para a pessoa nos perguntar se estamos "bravos" com ela, se ela fez alguma coisa. É um instrumento para poder prender a atenção dos outros e isso acontece quase que diariamente. Se uma pessoa envia uma mensagem para outra no WhatsApp, ela precisa ser respondida imediatamente, como se fosse um caso de vida ou morte e, quando a outra pessoa não vê a mensagem, ou até que a tenha visto, mas não tenha conseguido tempo para responder, isto já se torna motivo para a pessoa ligar para saber se a outra não irá responder à mensagem.
Se alguém está andando na rua e cumprimenta uma outra pessoa que passa e esta não responde, isto já é motivo para ficar triste e reclamar com tudo e com todos, que aquela pessoa não gosta dela. O problema da carência parece que está se tornando uma pandemia: para todos os lados se encontra alguém assim e torna-se muito difícil fazer com que as pessoas entendam que o mundo não gira em torno delas, e que todos têm seus problemas e suas dificuldades nesta vida. Nossa sociedade precisa de um conhecimento mais profundo da ladainha da humildade; ali temos todos os incentivos para nos recolocarmos em nosso lugar. É preciso tomar consciência de que quando mendigamos amor das pessoas, desprezamos o amor de Deus.
Deus não nos criou para sermos mendigos do amor dos outros. Nós temos o amor dos amores, que é o amor de Deus, e tendo este amor, não precisamos do amor de mais ninguém nesse mundo: somente o amor de Deus nos basta. Nossas carências devem ser combatidas, no entanto, não se pleiteia aqui uma sociedade sem carência, pois a carência faz parte do ser humano. O que não é normal é vivermos de carências.
É necessário pois tomar consciência de que, da mesma forma como que nós não nascemos para beber água vinte e quatro horas por dia, ou para comer vinte e quatro horas por dia, ou então dormir vinte e quatro horas por dia e assim por diante, a carência não precisa ser parte inseparável da nossa vida. A carência pode nos tornar doentes, sem nos darmos conta disso.
Assim, é necessário termos em mente que
não podemos amar a ninguém neste
mundo mais do que a Deus.
Amar a Deus sobre todas as coisas é um dos mandamentos de sua lei e este mandamento é automaticamente contrário à carência, pois nos introduz na essência do nosso ser, que é amar a Deus, pois ao amá-lo, aprendemos como devemos amar às pessoas sem, contudo, desprezar a Deus.
Se o católico não tiver plena consciência do amor que deve tributar a Deus, ele será escravo de suas paixões e Deus não deseja que nós, seus filhos, sejamos escravos de nada neste mundo. É importante que, durante a nossa vida, sejamos guiados pelos dons do Espírito Santo e, para tal, nós precisamos deixar que a vontade de Deus seja soberana em nossa vida. O combate à carência é um indício de que o fiel deseja crescer na intimidade com Deus e, se este mesmo fiel deseja crescer nesta intimidade, Deus irá favorecer que isto aconteça. Porém, é preciso que se queira verdadeiramente este acontecimento, pois, somente assim, Deus poderá agir fazendo com que a fusão da alma do fiel com Ele seja real e eterna.
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