Reconciliar-se com Deus
Por Pe. Frei Marcelo Aquino, O. Carm
Com o passar do tempo, a sociedade foi se moldando de formas que fogem ao costume tradicional e, com isso, perdeu muito de seu valor. Vários costumes salutares, que contribuíam para a construção de uma sociedade mais saudável e consciente quanto à sua missão, foram destruídos ou esquecidos ao longo dos anos.
Dentre os inúmeros costumes benéficos que a sociedade moderna perdeu, pode-se identificar o de confessar-se regularmente. Antigamente, era comum encontrar nas igrejas várias filas de penitentes aguardando para se confessarem, especialmente quando havia mais de um sacerdote, como nas comunidades religiosas. Havia também igrejas diocesanas que designavam mais de dois padres para atender confissões diariamente, a fim de suprir as necessidades espirituais do povo católico.
Atualmente, as pessoas não procuram mais os confessionários, pois substituíram o sacerdote pelo psicólogo. Assim, as filas nos consultórios estão sempre cheias, enquanto os confessionários tornaram-se quase peças de museu.
No entanto, a fila da comunhão
continua a crescer, ou seja, muitos comungam
sem estarem devidamente preparados e,
como dizia São Paulo, comungam a própria condenação.
Um grande mal abateu-se sobre a sociedade após o abandono de costumes salutares como a confissão, entre outros. Espalhou-se uma espécie de "doença social", caracterizada por um grande afastamento de Deus e pela consequente descoberta da infelicidade de estar distante d'Ele.
A falta de consciência sobre a gravidade do pecado faz com que as pessoas se afundem cada vez mais na vida pecaminosa, colocando em risco sua salvação. A ausência de combate ao pecado afasta gradativamente as pessoas de Deus.
A solução para esse grave problema contemporâneo é restaurar a catequese sobre o sacramento da penitência, instruindo os fiéis a mergulharem mais profundamente neste mistério. É preciso aprender o que é o sacramento da penitência para que cada penitente saiba extrair todos os frutos que Deus oferece por meio desse vital sacramento.
É essencial compreender que, na confissão, pedimos perdão a Deus por
nossos próprios pecados; jamais devemos falar dos pecados alheios. Na
confissão, é como se só existissem a pessoa e Deus.
Uma das lições mais importantes a serem reaprendidas é o sentido sacramental deste costume salutar. Antes de tudo, é necessário compreender que, na confissão, pede-se perdão a Deus pelos próprios pecados; nunca se deve falar, na confissão, dos pecados alheios: no momento da confissão, é como se no mundo existissem apenas a pessoa e Deus.
Na confissão, não se deve colocar em primeiro plano preocupações com questões ao redor, como o meio ambiente ou o excesso de preocupação por ter ofendido alguém (embora isso também seja importante), mas o motivo principal da ida ao confessionário deve ser a consciência da ofensa feita a Deus. E, na hierarquia dos pecados, sempre se deve confessar primeiramente os pecados mortais, para evitar o risco de, ao se deter nos pecados veniais, esquecer os mortais.
No fim das contas, o que precisa ser mantido sempre em mente é que a amizade com Deus não pode ser desfeita, e, se essa amizade for ofendida, deve ser restaurada o quanto antes. O amor a Deus deve guiar na busca das coisas que aproximam da divindade: a reza do rosário, a leitura espiritual, as penitências corporais, os atos de misericórdia e a visita ao Santíssimo Sacramento.
Todos esses elementos da fé católica favorecem a íntima união com Deus e, portanto, precisam ser cultivados diariamente para manter firme a caminhada espiritual, que é árdua e deve ser constantemente fortalecida.
O ato de confessar-se manifesta o desejo de crescer na humildade e torna a pessoa mais fortalecida para enfrentar as batalhas da vida. À medida que a confissão semanal ou mensal é praticada, a alma vai se moldando ao gosto de Deus, e a vida sobrenatural vai se tornando cada vez mais presente.
No entanto, para que a obra de Deus (Opus Dei) seja de fato realizada na vida de cada um, é necessário ter em mente que a confissão deve ser precedida por uma digna preparação (exame de consciência), em que se faz uma autoavaliação para trazer à mente as faltas cometidas contra a Divina Majestade.
É importante reconhecer que, ao avaliar a vida, muitas vezes Deus não está posicionado corretamente nela, não por falta de vontade divina, mas devido às escolhas pessoais, que impedem que Deus seja o Rei da existência. De fato, outras "prioridades" vão sendo escolhidas, e Deus vai ficando em segundo plano, caindo no esquecimento.
Eu confesso que, ao avaliar a vida, percebe-se que Deus não está corretamente posicionado nela, não porque Ele não queira, mas por causa das escolhas que impedem que Deus seja o Rei da existência. De fato, outras 'prioridades' vão sendo eleitas, e Deus vai ficando para trás, caindo no esquecimento."
Outra consciência que deve ser tomada é que, a cada confissão bem-feita, a alma conquista mais graças sobrenaturais, tornando-se uma fortaleza, não só para a própria pessoa, mas também para todos ao redor.
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